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Olhando em volta, noto a ausência de mel, a ausência da inspiração, a ausência da inspiração com mel. Essa ausência não seria nada além do que a falta doçura. Sim, simples assim.
Há a vida amarga, a azeda, a salgada, a “sem sal e sem açúcar” e a doce. Ah… A vida doce. Aquela em que tudo fica encantadoramente simples e, simultaneamente, cravejada de pedras preciosamente doces, assim como balas… Cereja, morango, menta… E tudo se transforma em deleite.
Dias e noites, amanheceres e entardeceres, acordar e adormecer… Dia após dia sempre mais doce. Não sei se é feliz, isso pouco me importa porque ser feliz é um conceito relativo, mas com certeza é com mel, açúcar e chocolate.
O céu é azul e profundo e está tão excessivamente próximo a mim que posso tocá-lo, senti-lo em minha língua. Qual gosto teria o céu? Bala, sorvete, pudim ou talvez amora. Uma deliciosa geléia de amora. Geléia de amor, saboroso só de se ver.
Nada, no entanto, apenas aos olhos, parece tão doce como mel, chega a ser prazeroso assistir àqueles fios de doçura. Hipnotizante… Como descrevê-los? Tão sereno, não há pressa em seu escorrer. Já as abelhas, que o produzem, não param nunca, tão agressivas, tão desgastadas… Mas é de seu suor que vem o mel, o amor. Duas palavras que deveria ser sinônimas, o mel e o amor. São igualmente inspiradores.
Olho então para uma de minhas paixões: escrever. Andei tanto tempo travada, impossível era conseguir enxergar ou provar algo que me pusesse a escrever. Frustrante. Há uns dias atrás, destravei. Aleluia, eu diria. Estava entrando em catarse… Meu maior bem, minha melhor terapia havia me deixado, mas finalmente voltou para mim, para meus dedos. O que concluo diante disso é que faltavam-me as palavras, as inspirações, porque faltavam-me as doçuras, e ainda faltam, as doçuras pela vida, o amor pela vida, e não por algo ou alguém, mas simplesmente pela vida. Só agora dei-me conta disso.
O “viver” precisa deixar de ser um filme Preto & Branco para tornar-se colorido; precisa deixar de ser salgado/amargo/azedo para permitir-se ser doce; precisa deixar de ser escuro para dar à luz à própria luz. E assim a vida segue.
Existirão dias terrivelmente amargos, mas sempre haverá os dias de visita à sorveteria de nossas vidas.
Doce que te quero doce.
Só de ler esse texto a vida já fica mais doce 🙂